Eu não gosto de legendas. Prefiro que as pessoas vejam minhas fotos e inventem suas próprias histórias. – Josef Koudelka

Essa posição do Koudelka, fotógrafo tcheco referência no fotojornalismo mundial é muito interessante, pois corresponde fortemente ao poder narrativo das imagens. Vale lembrar também, que foto e texto sempre tiveram certa coexistência, especialmente no fotojornalismo, fotodocumentarismo.
Vejamos algo sobre legendas. Segundo Ivan Lima (1989), em “Fotojornalismo Brasileiro – Realidade e Linguagem”, em jornalismo, a fotografia sempre está associada à escrita e faz a relação da imagem não-verbal e o relato do fato. Sendo a imagem uma síntese de espaço e tempo, a informação visual contém, quase sempre, elementos abstratos, concedendo, assim, espaço e importância da legenda. Ainda de acordo com Lima, a legenda pode assumir três funções: complementar, localizar e explicar. Ainda levanta o debate sobre a legenda “evocativa”, isto é, aquela que abre outras perspectivas de compreensão para quem vê/lê.
Para Jorge Pedro Sousa, teórico português no estudo do fotojornalismo ocidental, o texto (neste caso também a legenda) é elmento imprncindível da mensagem fotojornalística. “Não existe fotojornalismo sem texto”, ressalta ele no livro “Fotojornalismo – introdução à História, às Técnicas e à Linguagem da Fotografia na Imprensa“.
A legenda configurou-se como uma prática e ferramenta do fotojornalismo moderno, por assim dizer, indissociáveis. Mas vamos pensar, por um momento, nesse apontamento do Koudelka. Você prefere ver a história que acompanha uma imagem ou prefere tirar suas próprias conclusões?
Certas imagens tem um poder tão imagético e simbólico que, por vezes, dispensa qualquer explicação. A natureza da fotografia e seu equivalência de sintetização oferece uma narrativa – aberta. Valendo dizer (e não esquecer) de mencionar acerca da característica da multiplicidade de sentidos ( a famosa polissema). Ou seja, de ditos e não-ditos. Aberta à interpretações e novas configurações de conteúdo, mensagem e significação.
Ao ver e analisar uma imagem, nosso olhos percorrem caminhos na intencionalidade do ato fotográfico, oriunda da composição, do enquandramento, dos ângulos e também de outros elementos gráfico como as cores, textura, configuração de agrupamento, contraste, entre outros elementos da linguagem fotográfica. Assim como a força inerente do fato e do conteúdo.
Longe de mim, quem sou eu, para dizer que o Koudelka erra nessa reflexão, especialmente no que se refere ao fotojornalismo. O importante dessa citação é, acredito, ser essa possibilidade de também inferirmos sobre o assunto. Tecer nossas próprias perspectivas e percepções – ou “história”, como ele mencionou. Essa é uma das possibilidades da fotografia. Seu aspecto abstrato e artístico. A experiência do ato fotográfico, da intencionalidade, ganha força ou reforço na experiência de quem consome, de quem vê e interpreta a fotografia.
Vou deixar aqui uma proposta de reflexão…
Diante de tantas tecnologias, da mobilidade (também instantaneidade e fluxo de informações), do vídeos e outras formas de narrativa, vocês acham que a fotografia ainda tem força para empolgar, para tocar – naquele sentido barthesiano – de assombrar?
Caso você queira refletir ainda mais sobre o assunto. No caso das fotografias informativas, com tantas fake news, de pontos de vista divergentes, não seria justamente o contrário; isto é, quanto mais informação, mais apuro e detalhes não seria o melhor? Bem, pensem aí, filosofem e se tiver tempo, opiniem .