“Quem aceita o mal sem protestar, coopera realmente com ele.”
Martin Luther King
Cinco anos se passaram e os gritos de “Vem pra Rua” ainda ecoam na minha cabeça. O cheiro do gás lacrimogêneo, o barulho das bombas de efeito moral e tiros de bala de borracha também.
Os protestos de Junho/Julho de 2013 insurgiram da indignação contra o aumento da tarifa do ônibus, conclamado pelo Movimento Passe Livre (MPL). Mas a cada dia a coisa ganhava mais corpo e vozes de indignação. Nunca na história desse país se viu tantos manifestantes na rua e tantos protestos seguidos.
As manifestações, protestos e atos de Junho foram tão significativos que há quem assemelhe ou pelo menos compare a raiz dos protestos de Junho/Julho com os levantes da Primavera Árabe (2011) ocorridos em alguns países do Oriente e da África.
Toda uma multidão foi às ruas das principais cidades do Brasil. Indignados e tentando entender os gastos com estádios e obras, principalmente num país de contraste social no qual pessoas morrem em filas nos hospitais. No auge das manifestações, cerca de 1 milhão de pessoas tomaram as ruas e locais simbólicos do poder. Houve muita depredação – principalmente de símbolos do capital como bancos –, com a ação daqueles que ficaram conhecidos como “mascarados”. A polícia foi necessária e houve repressão. Os políticos assistiam de longe protegidos e ficaram boquiabertos.
A princípio, a população encarou o empenho do “Gigante que acordou” como um desabafo, aquele grito contra os ‘trocentos’ anos de espoliação, o basta na falta de consideração com o povo e o sinal de repúdio à corrupção. Mas, conforme eclodia a violência, a depredação ataque à imprensa (leia, aos jornalistas), a população (e também os órgão oficiais) criticaram a violencia e de certa forma perderam a fé nos atos.
Diante de um fenômeno moderno, no qual a organização e confirmação dos atos davam-se principalmente em páginas de redes sociais, o cerne e a explicação acerca das manifestações de Junho/Julho de 2013 ficou em suspense. Todo aquele barulho de quem, muitas vezes, não sabia ao certo o porquê estava nas ruas, e dizia apenas que era “contra tudo e contra todos”, ainda desperta dúvidas e o interesse de teóricos em entender tudo aquilo. O que significaram? A que serviram?
De concreto, os protestos foram movimentos embrionários. Em seguida pode-se observar e pontuar questões como a guinada conservadora, o acirramento da polarização – principalmente em 2014 –, e o impeachment da então presidente Dilma Rousseff.
Minha cobertura
Basicamente toda atenção às manifestações estava voltada para São Paulo, onde ocorreu a maior concentração. Contudo, as manifestações ocorreram por todo o país. Em Curitiba não foi diferente. Na época eu trabalhava para o jornal Gazeta do Povo e basicamente registrei boa parte dos atos.
O Centro Cívico (região que aloca os principais prédios da governança) ficou repleto de manifestantes, policiais e imprensa. Por maior que fosse o número de fotógrafos registrando as marchas, que as cenas fossem as mesmas, uma foto nunca é igual a outra.
Tenso
Todos os dias foram intensos e até mesmo cheio de tensão. Teve ocasião que eu não sabia o que era mais chato: o garoto “toddynho” – como apelidaram alguns manifestantes – querendo bancar de “Black block” ou a caminhada de longa distância com o equipamento a tira colo debaixo da chuva fina. E/ou pessoa da edição online querendo receber foto.
Num certa ocasião, segui um grupo que pretendia protestar em frente ao estádio Arena – estádio da Copa Fifa na cidade. O que eles não contavam é que uma torcida organizada também se mobilizou e ficou esperando os manifestantes com porretes e fogos de artifícios. A galera nem chegou à frente do estádio. Teve de correr pra não entrar no confronto direto. Aliás, todo mundo correu; inclusive eu.
Num outro dia, a concentração de manifestantes (leia aqui os mais exaltados ) pressionava para chegar ao Palácio do Governo, na Praça Nossa Senhora de Salete. O batalhão de choque da polícia conteve a rapaziada ‘do vamos quebrar tudo’. Rolou diversas bombas e saraivada de disparos de munição não-letal (balas de borracha e bombas de efeito moral). O colega acabou no espaço entre polícias e manifestantes. A coisa ficou feia e ele teve de ser proteger atrás de uma árvore. A capa de chuva balançava conforme os tiros de bala de borracha e bombas tiravam uma fina. Foi tenso.
Exposição fotográfica
Como é de praxe, muitas fotos não foram aproveitadas pelo jornal. Então surgiu a ideia de montar uma mostra fotográfica. Acabei organizando a mostra coletiva “Curitiba Protesta”. A instalação foi montada no Memorial de Curitiba. A visitação foi surpreendente e rendeu excelente crítica na mídia.
Foi um resgate, uma memória visual com icônicas do que foi a série de protestos na cidade de Curitiba.