Texto e fotos: André Rodrigues
As ruas estão repletas de opiniões. Muros marcados com aforismos baratos, rabiscos, desenhos inelegíveis e devaneios. Mas também há os discursos mais politizados. Desde os tempos antigos, as paredes são uma folha branca para de um anônimo pensador e convite a expressão. Uma grande galeria aberta, cheia de arte, de poesia ou de indignação.
Mesmo em tempos de hiperconectividade e dispositivos móveis como smartphones, amparados por todo tipo de redes de sociabilidade, opinião, ou engajamento, os muros de concreto – ou tapumes de construção – ainda incorporam pensamentos e descontentamentos.
Em especial as denominadas pichações de cunho político, que podem ser vistas em todas as cidades do mundo. Essas pichações (mas também cartazes e lambe-lambes) disputam o cenário visual com outras falas, discursos, marcas e logotipos comerciais do espaço urbano.

Ato comunicacional alternativo, questionador, transgressor, de contracultura, e até classificado como desobediência civil, que carrega uma caligrafia de crítica crua e certamente com doses de verdades ou questionamentos acerca do que deve ou se acredita que precisa mudar.

Numa reflexão sobre a forma de expressão, o jornalista Eduardo Galeano, escreveu num antigo artigo intitulado “Falam as paredes” (publicado no Livro “Teatro do Bem e do Mal” – no qual pego de empréstimo para título desse ensaio), que as paredes não se sentem violadas, aliás, muitas vezes ficam agradecidas, pois elas respiram outras falas que não são os anúncios publicitários e comerciais. Elas, as paredes, trazem mensagens e sentimentos coletivos que transcendem seus autores, pois as paredes são o que ele chamou de “mais democrática de todas as imprensas”.
Desde 2013, com o surgimento dos protestos contra o aumento da tarifa e posteriormente com as manifestações contra a realização da Copa Fifa no Brasil, passei a prestar atenção (e a registrar) alguns desses discursos gravados nos espaços da cidade. De forma ocasional, mas que agora compõem um conjunto.


O meu interesse em especial está voltado aos de mensagem políticas – no sentido amplo do termo. Pois, independente da discussão ou problemática estética, acabam proporcionando uma reflexão de contestação, caracteriza um movimento político – mesmo que micro. E sempre me faz pensar acerca do estado de indignação ou engajamento que levou àquele ato. Será que a pessoa não poderia escrever em seu blog, numa rede social ou outro meio qualquer de tantos que há por aí. Ou está ali no muro a característica transgressora, de apropriação da urbes, de resistência, de questionar o espaço público, de dialogar com um fato, de se fazer valer politicamente?



Muitos desses pichos podem ser encontrados em qualquer parte da região central de Curitiba – maior parte das imagens. Alguns têm cunho mais universalista, outros mais regionalizados. Entre eles: registros de opiniões contra o aumento da tarifa no transporte público, oposição a políticos e decisões políticas, às instituições representativas, posicionamentos em defesa de direitos, de causas e grupos minoritários, feminismo, e toda uma gama ideológica de fatos sociais contemporâneos.
Frases que falam por todos ou por grupos mais específicos. Alguns ainda subsistem, numa espécie de crença que ali há uma possível reflexão. Outros já foram apagados.
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